Sunday, June 04, 2006

Sobre os telemóveis

Antes de mais deixo aqui os meus agradecimentos pelos 3 comentários ao meu post anterior, que mostram que o público deste blog tem vindo a crescer, facto que tem vindo a descredibilizar a minha palavra, porque parece que alguém até lê o que escrevo.

Hoje vi "A Comédia do Poder", um thriller de Claude Chabrol, filme francês em que o crime prima pela elegância e charme: não há um único tiro, os criminosos são muito ricos e muito chiques e tudo o mais...

O francês utiliza o telemóvel de uma maneira muito diferente do português. Para o francês, o telemóvel é como um walkie-talkie: falas curtas, recheadas de informação; para o português é veículo de discussões quilométricas sobre futebol, discussões entre namorados, consultas de horóscopos, ou (simples) dissertações sobre o Nada, das quais já dei exemplo neste blog.

Fala-se ao telemóvel em qualquer sítio, a qualquer hora, tudo se interrompe para atender uma chamada, e qualquer acontecimento é razão de um telefonema: antes de haver telemóveis não parecia tão fácil desejar um Feliz Ano Novo ou uma Boa Páscoa, mas agora, não só é fácil, como é caro. As operadoras móveis nacionais são autênticos sorvedouros de dinheiros, públicos e privados. Fala-se ao telemóvel na passadeira, ao volante (de máquinas agrícolas inclusivé), no urinol, no bordel e no parlamento. O assunto será importante, será urgente? O assunto só é urgente porque há telemóvel, porque se não existisse o aparelho, não chegaria a ser urgente: seria combinado com antecedência, falado cara a cara; mas assim podemos deixar tudo para o último momento, para o fim do prazo, confiando que ainda haverá bateria na hora da verdade. Aqui é que está o busílis (do italiano busillis, “dificuldade”) da questão: o telemóvel é objecto predilecto do nacional desenrasque. Estar à rasca, parece algo do Fado - o português está condenado a estar à rasca (palavra que soa estranha depois de repetida muitas vezes). Mas com o telemóvel, tudo se resolve, e quando não se resolve, joga-se uma serpentita.

No entanto, eu pussuo telemóvel.

2 Comments:

Blogger Sandman said...

SIM! os telemoveis deve ser apenas utilizados na pornografia imaginativa!!!!

6:39 PM  
Blogger Manuel Durão said...

ERRATA
"possuo" e não "pussuo"

10:27 AM  

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