Thursday, June 22, 2006

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TAMOS TODOS COMIDOS

Thursday, June 15, 2006

O cordeiro que foi imolado

Hoje, por obrigações semi-profissionais, fui à Missa. Eram dez da manhã e a casa de deus estava mais cheia que uma repartição de finanças em final de prazo de entrega do IRS, com uma ocupação por metro quadrado próxima da do Rock in Rio e lotação completamente esgotada. Não se sabe muito bem o motivo da celebração, mas parece no mínimo remoto, para não dizer inexistente. Eu fazia parte do coro: cantei frases como “O Senhor alimentou-nos com o mel dos rochedos”, “Recebei o corpo de Cristo” e o grande sucesso “O cordeiro que foi imolado é digno de receber a honra e a glória”. A celebração é fã do sofrimento e ainda ecoam na minha cabeça (oca) coisas como: “aspergir sangue”, “sacrifício”, “pecado”, “imolar” e tudo o que de mais sangrento existe em filmes de terror e que vai contra os direitos dos animais. O que mais me surpreende é que o cordeiro depois de imolado (escorrendo o seu sangue sobre o altar) ainda esteja à altura de receber Honra e Glória. Pelo menos isso, honra e glória, porque caso contrário haveria logo pessoal da Quercus a intervir. A Glória pode também ir “para Deus nas alturas, na terra e nos céus”, mas aí ainda posso compreender. O sacrifício do cordeiro (Aguns Dei) é que me comove deveras e me deixa que pensar sobre a sua eficácia: Jesus e seus camaradas degolam o cordeiro (se para alimentação legitimamente), deixam que o seu sangue aspirja e que suje o altar todo, mas que raio, um sacrifício como deve ser não contempla uma sodomização o ou uma fornicação do cordeiro? Que coisa mal amanhada. Permito-me dizer isto porque hoje na missa confessei de antemão todos os meus pecados, e livrei-me deles. Deus que os coleccione.

Wednesday, June 14, 2006

Morangos com Bolor

Há jovens da minha idade que confundem a realidade com o que se passa nos morangos com açúcar da TVI. Confundem apesar da imitação ser mal feita, que pude apreciar em escassos 10 minutos de novela: “Grafitar não é estragar. Os gajos que grafitam as paredes sem autorização das autoridades são palermas e nós é que somos bacanos porque nós só grafitamos nas paredes que nos são dadas pela nossa dedicação, e porque grafitar não é estragar, eles deviam ser todos presos, nós é que somos bacanos, tá-se bem... nós não queremos estragar a cidade” Como se pode ver há um inconsitêcia de péssimo gosto no registo de língua: o argumentista, que não resisto a dizer que é uma merda, apesar das audiências, devia ter juízo. Mais grave ainda, há cada vez mais palermas daqueles a quererem abrir negócios na praia, vender cachorros e caipirinhas, porque pensam que aquilo é negócio para o ano inteiro. A fantasia dos morangos com açúcar encheu o Coliseu dos Recreios para prejuízo do bolso dos papás que deixaram as criancinhas abastecerem o seu intelecto naquele poço de virtudes. Morangos com açúcar é ‘bué fixe’ mas tem sempre uma lição de moral – o que parece naturalmente contraditório – porque onde há ‘gajas boas’ não devia haver qualquer moral. Mas o pior de tudo, é uma personagem de óculos de massa pretos, que conserva um registo de língua díspar, que fala estilo sopinha de massa (daí o nome), que me agonia profundamente: diria Freud que a razão da minha aversão é simplesmente identificar-me nele. Uma nota ainda para a decoração da sala de convívio do colégio (só meninos bem) que parece um restaurante de fastfood.

Um bom Natal, uma boa Páscoa

Tuesday, June 13, 2006

Voglio vedere il vapore del Sole e ballare senza tempo

"Quero ver o vapor do sol e dançar sem tempo"

O vapor do sol persegue-nos. Mesmo com óculos de sol, protector solar, mesmo que o dia esteja nublado, o vapor vem e não há nada a fazer.

Este vapor desce e sobe ao mesmo tempo ou intercaladamente, confesso que ainda não consegui perceber bem, mas o movimento, se existir, não me parece premeditado. Acontece no preciso momento em que tem de acontecer e é só isso.

O vapor do sol é quente: parece-me ser facilmente deduzível que se o Sol é quente e o vapor é seu sucedâneo, então o vapor do sol é quente. É calor de corpos em contacto, um calor confortável e sensual.

O movimento mesmo que residual ou imperceptível faz parte da massa de vapor e aumenta com a temperatura. À temperatura certa, estou convencido que, da mesma maneira que o ‘bolor’ surge inesperadamente, o vapor nos pode condicionar a dança sem tempo.

Chegado o momento de ‘dançar sem tempo’ mais uma vez não há nada a fazer. Tem mesmo de se dançar: o nosso corpo pode contorcer-se, agitar-se, sacudir-se voluptuosamente sem ritmo constante, como se fôssemos parte do vapor e não vale a pena resistir. Ele é mais forte.

O vapor do sol persegue-nos e eu agradeço.



“Tufos de Bolor”
“Vapor do Sol”
FÁBRICA DA PÓLVORA DE BARCARENA LUGARCOMUM
15 de Julho de 2006 – 21h30

Ana Luísa Vieira [violino]
Manuel Durão [piano]

Catarina Vasconcelos [vídeo]

Tuesday, June 06, 2006

mestruações patrioticas

Já repararam que um típico português guincha que isto é tudo uma merda como diz que "the portuguese do it better e go to have som gelates bifate do C$%&$%/"... vejamos alguns exemplos.
fase de qualificaçao para o europeu de 2004: é Pá Cabrão do brasuca só vem pa cá fazer merda. Final do Europeu de 2004 pelo mesmo especime: Há ganda Scolari! És cá dos nossos, se eu te pudesse falar pedia-te um filho! E sim foi esse mesmo brasileiro que fez com que muitos de vocês pendurasse uma bandeira de portugal (com castelos ou com pagodes) e creasse um espirito patriotico tão natural quanto a pele da Lili Caneças.
Isto meus amigos/as (sim tambem as tenho eheh) chamo-lhe mestruações de patriotismo... Comportamento tão inflexivel apenas encontro em mulheres, de faixa etaria dos 13-49 anos, de 28 em 28 dias (ciclo lunar, interessante nao?) e pricipalmente em lua cheia. Mas nõs portugas temos todos em relação ao nosso pais... Ficamos contentes quando a porcaria de uns estadios de futebol ficam com dinheiro que poderia ser revertido para uma nova maternidade, passamos-nos dos carretos quando nos vêm dizer que não há fundos e que terão de ser despedidos trabalhadores.
Pois bem aqui vos digo somos pequenos, otários e megalómanos... Mas o pior é que o sabemos e o sentimos mas se algum comissário belga nos diz isso o que temos vontade é de lhe partir a cara toda, violar-lhe a mãe e torturar a mulher até a morte com cabos electricos e cães seropositivos.

Monday, June 05, 2006

Está tudo com as bolas aos saltos

Dado o sucesso do meu último post, trago-vos agora um tema também recorrente na blogosfera, o amor pela selecção nacional.

Eu gosto muito do meu país e tudo o mais e essas coisas todas, que fique já salvaguardado, apesar de ultimamente terem sido transmitidos na Rádio textos da minha autoria que denunciam ínfimas parcelas do Portugal apodrecido. O meu amor revela-se de facto na paixão pela denúncia. Segue-se mais uma minúsculo parcela, algo como uma agulha num palheiro, mas um palheiro como deve ser, estilo megastore (sim porque neste portugal apodrecido, tudo o que não seja o maior da Europa não presta):

Tenho encontrado pessoas que, não tendo ainda começado o Campeonato do Mundo de Futebol, já não podem ouvir falar da selecção nacional. E com razão: não ha momento noticioso que não acabe com a ode aos heróis da bola. Gostava muito que eles ganhassem aquilo tudo porque, caso contrário, todo o investimento vai por água abaixo. Quantas marcas de desodorizantes, bebidas, gelados, preservativos e hambúrgueres passariam a ser símbolo de derrota? Quantas mais pessoas seriam lançadas para a vala do desemprego, se Portugal perder logo na primeira fase?

É nestes momentos de euforia que o governo aproveita, e bem, para aumentar os impostos, já que muita gente está com as bolas aos saltos. Não fodem mas agitam as bolas. Traduzindo: se não produzem, sugam o dinheiro onde podem e o gastam ao serviço do futebol, o que têm mesmo de fazer é pagar impostos. A indústria do futebol, cujos produtos finais são avisos via telemóvel, cachecóis, bandeiras, bifanas e couratos é que ganha com isto: é pena é que esses produtos, umas vez adquiridos, não se convertam em riqueza, não sigam um percurso no mercado e não tragam qualquer desenvolvimento sustentável. Aliás os médicos dizem é que os couratos têm é muito colesterol.

Sunday, June 04, 2006

Sobre os telemóveis

Antes de mais deixo aqui os meus agradecimentos pelos 3 comentários ao meu post anterior, que mostram que o público deste blog tem vindo a crescer, facto que tem vindo a descredibilizar a minha palavra, porque parece que alguém até lê o que escrevo.

Hoje vi "A Comédia do Poder", um thriller de Claude Chabrol, filme francês em que o crime prima pela elegância e charme: não há um único tiro, os criminosos são muito ricos e muito chiques e tudo o mais...

O francês utiliza o telemóvel de uma maneira muito diferente do português. Para o francês, o telemóvel é como um walkie-talkie: falas curtas, recheadas de informação; para o português é veículo de discussões quilométricas sobre futebol, discussões entre namorados, consultas de horóscopos, ou (simples) dissertações sobre o Nada, das quais já dei exemplo neste blog.

Fala-se ao telemóvel em qualquer sítio, a qualquer hora, tudo se interrompe para atender uma chamada, e qualquer acontecimento é razão de um telefonema: antes de haver telemóveis não parecia tão fácil desejar um Feliz Ano Novo ou uma Boa Páscoa, mas agora, não só é fácil, como é caro. As operadoras móveis nacionais são autênticos sorvedouros de dinheiros, públicos e privados. Fala-se ao telemóvel na passadeira, ao volante (de máquinas agrícolas inclusivé), no urinol, no bordel e no parlamento. O assunto será importante, será urgente? O assunto só é urgente porque há telemóvel, porque se não existisse o aparelho, não chegaria a ser urgente: seria combinado com antecedência, falado cara a cara; mas assim podemos deixar tudo para o último momento, para o fim do prazo, confiando que ainda haverá bateria na hora da verdade. Aqui é que está o busílis (do italiano busillis, “dificuldade”) da questão: o telemóvel é objecto predilecto do nacional desenrasque. Estar à rasca, parece algo do Fado - o português está condenado a estar à rasca (palavra que soa estranha depois de repetida muitas vezes). Mas com o telemóvel, tudo se resolve, e quando não se resolve, joga-se uma serpentita.

No entanto, eu pussuo telemóvel.